domingo, 31 de agosto de 2008

DOMINGO

Acordar tardio; já no início da tarde.

Habitual fastio de tudo; de comida, de tarefas, de entertenimentos, ..., de tudo.
O Sol alto e descoberto de Verão, era um ferrete impiedoso e torturante.

Primeiro o deambular pela casa, procurando nada. Depois o sentar na borda da cama, queixo apoiado nas palmas das mãos em concha e os cotovelos assentes no joelhos. O olhar fitando a parede vazia em frente.

O tempo continua no arrastar dos ponteiros dos relógios. A vida prossegue sem nossa intervenção. Sabemos que lá fora o mundo existe nos seus vários ritmos e funções. A minha função; a de me manter vivo.

Ligo o macbook e dedico-me a organizar ficheiros de música. Os meus queridos ficheiros musicais. O oxigénio que me mantém vivo e desperto; o sangue arterial que me dá ânimo para continuar. O Manto de Arminho, que me resguarda da vida gélida minha madrasta.

Um convite arreda-me do meu refúgio: vamos ao supermercado! Depois do sol escaldante da tarde estival, está frio lá dentro. Andamos para trás e diante, entre filas de expositores de mercearias. Os olhares alheios atingem-me; encolho-me atrás dos meus óculos escuros. Impaciento-me por sair dali.

De regresso ao lar, o arrumar das compras e o preparar lesto para uma surtida ao cinema.

No automóvel encolho-me no assento traseiro, escudado pelos meus óculos escuros e os auscultadores onde se desfiam as notas do meu encantamento. A paisagem desfila lá fora, espiada através dos vidros; aglomerados urbanos, seguidos de aglomerados urbanos, alguns intervalados de baldios.
Tentamos entrever entre os transeuntos algum exemplar que nos dê alguma sensação de deleite fugaz. O mesmo se repetindo no centro comercial, o destino da nossa curta viagem.

O comprar os bilhetes para a sessão de cinema, antes que esgote. O deambular pelos corredores amplos, ladeados de lojas. O entrar numa ou outra para apreciar alguns artigos de interesse, ou mesmo até para comprar.

Hora de jantar. A escolha do restaurante; fast food. Abstenho-me de fazer sugestões e aceito a decisão alheia. É-me indiferente o tipo de comida; serve apenas para nutrir o corpo e mantê-lo vivo.

À saída do filme encontro um velho amigo-colega de escola. Conversa de circunstância e uma tentativa de evitar alongar-me em detalhes sobre a minha presente inexistência. Curto o encontro, rápidas as despedidas. A caminho do automóvel para regressarmos a casa, sou assolado pela inevitável avalanche de memórias duma juventude já muito longínqua no tempo.

Ao sair do imenso edifício... o doce encontro com o negro ar da noite. Cúmplice tranquilidade.

Regressados a casa, pude então retirar os resguardos e baixar a guarda.
O ataque foi fulminante! Verguei-me sob o peso devastador de mais uma crise de ansiedade. Prostrado, fustigado por tremores convulsivos, chorei. Porquê? Não tem resposta.

Minutos depois, cansado, procurava recuperar uma normalidade exterior, suficientemente tranquilizadora para os que partilham do meu quotidiano.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

VENDO TV: GEO-ESTRATÉGIAS

Ouvi ontem a actriz e ex-deputada, Odete Santos, afirmar que «os ocidentais não entendem o pensamento dos orientais nem os orientais entendem o pensamento dos ocidentais». Concordo.
O pensamento tem a ver com o sentir, a cultura, a história, o ambiente, as condições de existência e vida, com as expectativas e aspirações, e muito mais ainda. E tudo isso é o bastante para gorar à partida qualquer tentativa de globalização hegemónica. Tem até contribuido para muito conflito social e político. Cada um se acha senhor da razão e da verdade absoluta, tentando impô-las aos outros.
Bom-senso é o que tem faltado nas investidas políticas entre ocidente e oriente.

De novo assistimos a uma escalada de ameaças e afrontamentos entre o ocidente Euro-Washingtoniano e a Rússia. E tudo por causa dum títere de aspirações ditatoriais que governa a Geórgia, acoitado, tal como outros antes dele o foram em outras partes do globo, por Washington e seus lacaios.
E isto remete-nos a uma reflexão sobre o papel da NATO (ou OTAN). Ora a NATO foi criada num clima de guerra-fria entre os aliados Europa-USA contra o Bloco liderado pelos Soviéticos. Ora com o fim do regime soviético e o desmembramento do Bloco de Leste, o passo mais óbvio seria a dissolução da NATO, para que se desse início a uma nova fase de diálogos e procura de entendimentos conducentes a diplomacias tendentes a uma aproximação de interesses e intercâmbios pacificadores.

A Europa devia se organizar numa política geo-estratégica própria e deixar de acolitar os desvarios imperialistas de Washington. Enquanto ela permanecer algemada aos USA, os seus possíveis aliados historicamente naturais, sempre terão suspeitas a respeito da sua imparcialidade.

Os primeiros motivadores da crise georgiana são os USA, acolitados pela Europa, com o seu cerco estrangulador de instalações bélicas junto às fronteiras da Rússia. Ora cão acossado não fica manso. Que esperavam que a Rússia fizesse, perante a tentativa de lhe retirarem as zonas tampão de segurança a Sul, quando já antes se haviam apropriado das mesmas a Oeste?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

...OF OUR LIVES

Hoje não quero dizer nada, não quero comentar nada, não quero pensar em nada.
Hoje quero apenas ficar ouvindo música. As minhas amadas músicas, que tanta mágoa tenho de não as poder levar comigo quando atravessar para A Outra Margem. Sei que O Barqueiro me dirá que terei de as deixar ficar para trás, como tudo o resto.
Mas tudo o resto até é mais facilmente dispensável. Contudo as minhas músicas... essas será bem mais difícil. Elas sempre me acompanharam e continuarão acompanhando.
Ajudam a suportar o fardo. Tenho sempre uma para cada momento. Há sempre uma música que serve de fundo sonoro para um determinado estado emocional. Há sempre uma melodia que me ajudava a reencontrar o meu rumo.
Eu sou um poeta. Mas se o sou é apenas porque a música vive em mim. A poesia não é mais que a música das palavras.
O título para este texto é uma citação do verso final de «Take a Peble», dos Emerson, Lake & Palmer; estava ouvindo quando quis dar o título ao post.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

VENDO TV: DESLEIXOS OLÍMPICOS


Tem-se assistido a péssimas prestações dos ateletas portugueses no decorrer destas olimpíadas, muitos deles e delas com resultados muito inferiores aos seus próprios mínimos de apuramento para integração da representação portuguesa. E, de modo geral, o motivo por trás de tais desastrosas presenças em arena tem um mesmo fundamento; iníbição perante as multidões assistentes.

Eu até entendo os atletas (como justificarei adiante), embora não os desresponsabilize da falta de brio e bom-senso com as afirmações tolas (no mínimo) aos orgãos da imprensa. Cúmulo dessas afirmações foi a daquele jovem anafadinho que se queixava do seu infortúnio por terem marcado a prova dele para de manhã, altura em que ele «costuma estar na caminha» (afirmação sua).
O quê??? Mas atleta olímpico dorme toda manhã na cama? Não é suposto atleta olímpico ter uma agenda de trabalhos de treinamento para o manter em forma sempre que dele se exija o seu melhor desempenho? Aí a responsabilidade não é apenas do atleta, mas do seu supervisor técnico principalmente.

Mas voltemos às multidões. Na verdade o estádio olímpico «Ninho de Pássaro» é algo de grandioso e que, devido à sua arquitectura muito própria, cria um grande elo anímico entre público e atletas (e isso é deveras avassalador). Até sobre esse aspecto o estádio é uma obra-prima da arquitectura actual.
É natural que atletas habituados a prestarem provas perante estádios vazios de público (não contando como é óbvio com os familiares e as equipas técnicas de apoio), como são os portugueses em eventos de atletismo, sintam alguma inibição perante o gigantismo dum público olímpico.
Contudo a mim parece-me que essa falha tem raiz numa deficiência mais profunda e, começa muito mais cedo.

Desde pequenos não somos habituados a enfrentar o público. Nas escolas (instituição por excelência para a integração do indivíduo com o meio social) não são incentivadas palestras individuais em que os oradores (cada aluno por sua vez), defendesse uma intervenção oral, de temática à sua escolha, perante a restante turma. Palestras essas que depois deveriam ser transferidas progressivamente para plateias mais amplas, como as dos anfiteatros escolares onde se reuniriam todas as turmas do mesmo ano e, mais tarde ainda, todos os alunos da escola.
Isso não apenas serviria para o jovem ir ganhando auto-confiança e desinibição, como também o prepararia melhor para PENSAR e defender as suas ideias.

Não adianto mais o tema. Embora houvesse muito mais a dizer. Deixo apenas estas conjecturas à vossa consideração e reflexão.

domingo, 17 de agosto de 2008

VENDO TV: ARMAS NAS ESCOLAS


Num distrito do Texas (Harold, suponho), nos USA, as autoridades municipais aprovaram regulamentação que autoriza os professores e funcionários das escolas a levarem armas de fogo para as mesmas. A medida visa a protecção dos mesmos, perante os contínuos ataques armados que têm sido perpetrados nas escolas americanas.
Pois é! É assim mesmo como vocês leram... Ah! E tem mais! Os pais dos alunos aplaudiram a ideia. Ãh?!...

Fico sem saber por onde hei-de começar. Mas talvez nem valha a pena o esforço de argumentar tentando demonstrar a estupida monstruosidade da medida. Os factos falam por si mesmos.

Eu, na minha infância não gostava da escola e temia os professores. Se soubesse que os meus professores me davam aulas armados de pistola, acho que a minha mãe teria de me mandar para a escola de fralda.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

FISGA


Eu sofro de Sindroma de Pânico, presentemente (já à um longo presente) associado a uma Depressão Distímica.


Logo me perguntam o que é isso de Distimia?
É uma forma de depressão prolongada que apresenta sintomas de certo modo semelhantes à Doença Bipolar.
E isso traduz-se em quê? Perguntarão. Ora aí vamos...


Roller Coaster!!!
Yuuupiiiiiiiiiiii!!!......... AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!.....................
Uma montanha-russa!


É sentirmo-nos como se fossemos uma fisga psicológica, com reflexos físicos. Somos esticados até ao ponto de pré-ruptura, para depois sermos largados. E disparado o projéctil, pendemos banboleando lassos e imprestáveis. Até ao próximo arremesso.


Continuadamente vivemos na ignorância de quando será a próxima crise, pois elas podem ser desplotadas sem motivo aparente. Um momento estamos calmos e tranquilos e no seguinte, sem que nada em redor se tivesse alterado, podemos estar completamente eufóricos, rindo tolamente perante a estupefacção de quem nos rodeia na ocasião. Ou então podemos ficar no maior desalento, com uma tristeza profunda motivada por nada.


Então a vida começa a tornar-se um fardo imensamente pesado. Um medo imenso do momento seguinte, por não sabermos como iremos estar nesse momento seguinte. Por não encontrarmos razão para continuar vivendo, para continuar esperando que alguma vez consigamos a tranquilidade que proporcione alguma felicidade.


E, então aí, sentimos uma sombra rondando perto. Dissimulada. Escondida. Mas suficientemente próxima para sentirmos o seu bafo nos roçando a espinha e os seus véus negros nos toldando a razão. E a sombra toma forma. E a forma toma um propósito. E o propósito é morrer. Acabar com esta Pedra de Sisifo. Finalmente descansar...


Hoje falei de mim.


Perdoem-me o egoísmo do desabafo.


Contudo eu não sou o único a viver este drama. Somos milhares. Muitos de nós vivemos ao teu lado e tu ao olhar nem te apercebes que por dentro vivemos assim.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ENTERRANDO DINHEIRO

Mais uma estúpida medida faustosamente anunciada por este patético governo de Portugal.
58 milhões de euros (custo previsto na apresentação pública da obra; pois no final acabam sempre por se acumularem as derrapagens financeiras) para a construção de 220 metros de metro (sim, aquele tremzinho que corre debaixo de terra que nem minhoca) em Lisboa. Chamo a isto enterrar dinheiro!

Há que melhorar o serviço de transportes colectivos da capital portuguesa, concordo e apregoo veementemente. Mas o metro de Lisboa (embora seja eu um cliente assíduo e a que dou preferência) é a solução mais estúpida para os problemas de mobilidade da cidade. É debochadamente caro e não resolve o principal problema: o excesso de viaturas, circulando pelas congestionadas artérias de uma cidade velha, que tenta a todo custo, com alguns remendos de cosmética pacóvia, modernizar-se.

Numa cidade com a topografia de Lisboa, com a sua distribuição demográfica e organização (maldosamente diria desorganização) urbana, com o seu valioso património monumental (tão ultrajantemente votado ao abandono), com o singular e irregular traçado das suas ruas e avenidas (em muitas zonas com um pitoresco tão peculiar e turisticamente apelativo), a preferência deveria ir sempre para o metro de superfície. E isso por inúmeras vantagens, das quais apenas aludirei algumas:
- Seria imensamente mais barato.
- Ao ser mais barato possibilitaria o investimento numa rede muito maior e logo geograficamente mais abrangente.
- Forçaria a uma rigorosa disciplina da circulação rodoviária. Ajudando à eliminação da anarquia de estacionamentos irregulares e trânsito caótico.
- Teria a possibilidade de alcançar as zonas das colinas históricas (fora do alcance do metro subterrâneo) servindo assim tanto as populações locais como o acesso fácil ao turismo. Induzindo uma posterior revitalização e desenvolvimento dessas que deveriam ser as zonas historicamente nobres da cidade.
- Reduziria o recurso ao transporte colectivo rodoviário urbano, ajudando assim a uma substancial redução de emissões de gases poluentes.
- Permitiria uma acessibilidade mais fácil a utentes com variados tipos de incapacidades

E por aqui me fico. Se as entidades interessadas quiserem saber mais, eu estou disponível a discutir montantes de subvenção por acessoria.

LUSITANA JUSTITIA

Um indivíduo a cumprir pena de prisão evade-se da cadeia, conseguindo manter-se a monte por vários anos.
Recentemente esse indivíduo faz-se acompanhar do filho, menor de 12 anos (ou 11 ou 13 pouco importa) e de mais um cunhado, para entrarem em propriedade alheia vedada, afim de furtarem material de construção civil.
Denunciados na hora por uma testemunha, são apanhados em flagrante pela guarda. Ao encetarem a fuga, no veículo em que se haviam deslocado, tentam atropelar um dos agentes da autoridade que lhes dava ordem de paragem.
A patrulha da guarda enceta perseguição ao veículo em fuga, que desobedecia às indicações de paragem. Um dos agentes policiais dispara sobre o veículo dos assaltantes, tentando acertar nos pneus para o imobilizar. Após vários disparos logram os perseguidores deter os fugitivos.
Detidos os adultos constactou-se que o menor havia sido atingido pelos disparos, vindo a falecer mais tarde no hospital.
Presentes a tribunal de instrução criminal os assaltantes são postos em liberdade, sob termo de apresentação periódica às autoridades.
Depois da libertação o tribunal acaba por constactar que o pai da criança apresentara para ser identificado um bilhete de identidade falseado (colocara a foto dele no B. I. dum irmão) e que afinal era procurado pelas autoridades por evasão da cadeia. Obviamente que quando o procuraram já ninguém o encontrou.
O agente da guarda, autor dos disparos, está detido acusado da morte do menor. A Lei portuguesa impede os agentes da autoridade de utilizar disparos de armas de fogo em caso de perseguição automóvel.

Abstendo-me de fazer quaisquer outras considerações ou pôr outras questões, apenas pergunto: como pode um Juiz, pôr em liberdade um pai que se faz acompanhar dum filho menor para um assalto de onde este acaba por sair cadáver?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

EQUILIBRIUM STRATEGICUS

De novo os poderosos marcam posições, recorrendo para tal à avidez de poder dos pequenos títeres sedentos de protagonismos.

Desta vez coube ao Presidente Mikhail Saakachvili da Geórgia, exibir o seu fanfarronismo narcísico ao tentar a imposição, pela força, da sua soberania sobre a Ossétia do Sul. Como sempre, nestes casos de soberanias regionais, vêm acima as diásporas étnicas e as suas rivalidades. E tudo serve de pretexto para tudo.

Putin aproveita para reafirmar a sua imagem do Guardião do Espírito da Mãe Rússia, logo acudindo às minorias russas instaladas na região, assim como aos seus aliados ossétios. E de caminho aproveita para reposicionar e fortalecer a estratégia logística russa na região.
O mundo tremeu, recordando ainda o recente passado que foi a continua tensão da guerra-fria na segunda metade do século transacto. Mas a montanha pariu um rato.

Bush mostrou a sua completa fragilidade política, com que irá abandonar a Casa Branca, lendo um opúsculo (aquilo não era um discurso) em que mal disfarçava a sua debilidade de moral política e a sua incapacidade de intervenção, atrás dum frouxo pedido de contenção aos russos.
Os arrogantes USA, designados como única potência mundial pós guerra-fria, revelaram a sua presente incapacidade, provocada pelo desgaste de tantos dislates em política geo-estratégica, em que a pretexto de tudo ou nada se recorreram da sua superioridade em tecnologia bélica.

Novas forças se levantam. E não são necessáriamente forças bélicas. Novos interesses e novos poderes se afirmam. O mundo político começa a redefinir novos equilíbrios de forças e novos jogadores se posicionam.

Contudo um padrão dá mostras de prevalecer, infelizmente; o de que todos esses jogos de poder são executados à custa do sangue e lágrimas dos inocentes.