domingo, 30 de novembro de 2008

NOMES

Aos 19 anos comecei a trabalhar nas antigas fábricas da Quimigal (ex-CUF). Aos 19 anos os meus pais morreram e eu fiquei morando sozinho em casa deles, um apartamento enorme de 5 assoalhadas.

Os nomes que aqui referirei são verdadeiros, embora talvez alterados ou não, para que não haja uma identificação por terceiros; mesmo que já se tenham passado algumas décadas sobre os factos aludidos. Usei deliberadamente os nomes próprios, pois normalmente a maioria deles eram mais conhecidos pelos seus apelidos.

As fábricas da Quimigal já foram desactivadas e desmanteladas, mas delas guardo a memória das minhas aventuras sexuais, ou direi homossexuais, lá vividas. Período da minha vida, prolífero nas mesmas, até por dispor dum local privilegiado para a consumação desses desejos.

Quero ainda referir que todos estes casos se passaram com operários, tidos como a classe menos culta de toda a hierarquia laboral e social. Será mesmo assim? Não creio, pois alguns se mostravam interessados nas artes de ler e filosofar. Assim os comportamentos que aqui referirei não se podem justificar pela incultura, até porque tive o mesmo tipo de experiências com indivíduos de classe social mais elevada e com formação académica.

Jorge, casado, pai. Fomos amantes durante vários anos. Antes de mim já tinha tido outro caso extra-conjugal de um relacionamento homossexual estável, que também durou alguns anos.

Helder, casado, pai. Assumia a sua bissexualidade, embora a escondesse em casa. Foi ele que me introduziu na minha primeira experiência homossexual a três. Costumava dizer-me que eu era o complemento que faltava no seu casamento para ele ser feliz.

Josué afirmava-se como um curioso sexual. Namorava uma jovem, com quem se pretendia casar. Conheci-o numa sessão de sexo entre três homens.

Filipe, casado, pai. Era bem jovem como eu e a loucura juvenil levou a termos sexo no próprio autocarro que a empresa alugara para transportar os trabalhadores entre o local de trabalho e as suas zonas de habitação.

Paulin(h)o, casado, pai. Nunca chegou a ir a minha casa, pois dávamos largas aos nossos desejos sexuais em locais mais escondidos dentro da zona fabril. Eram aventuras empolgantes, devido ao risco que corríamos de sermos descobertos. Chegou a propor-me que se divorciaria da mulher se eu aceitasse viver com ele.

Simpliciano, homossexual que tentava por todos os meios esconder a sua homossexualidade. Acabou por casar, "para manter secreta a sua homossexualidade", como ele me afirmou. "Mas continuarei a procurar homens para ter relações sexuais com eles" assegurou-me ainda.

José, jovem ainda, namoriscava raparigas e encenava tentativas de resistência aos meus avanços sexuais. Acabou por ceder de boa vontade, pois por muito que se mostrasse incomodado com as minhas tentativas e assédios, nunca deixou de me procurar, mesmo em minha casa. É casado e pai.

Vítor, casado e pai. Perseguiu-me até eu anuir em ter relações sexuais com ele. Também, certa vez, fez-se acompanhar dum amigo para termos uma sessão de sexo a três.

Ivo, casado, pai. Também me cortejou até eu aceder a ter relações sexuais com ele.

Hugo, casado, pai. Tínhamos sempre relações sexuais nos balneários, quando mais ninguém se encontrava lá.

Helder (outro Helder), casado, pai. Esperávamos que todos abandonassem o balneário para depois termos relações sexuais lá.

Júlio, casado, pai. Bissexual assumido. Perseguia-me continuamente para ter relações sexuais com ele.

Octávio, casado, pai. Cortejava-me com muita delicadeza, mas inibia-se quando era o momento de me propôr aquilo que era sua intenção: o foder comigo. Eu perante a sua cobardia nunca fiz o mínimo esforço de o encorajar, embora desejo não me faltasse. Contudo a sua cobardia indignava-me, por isso o punia não o ajudando a vencê-la e a concretizar os seus mais que óbvios desejos.

Ernesto, casado. Cortejavamo-nos romanticamente. Morreu, ainda bem jovem, de leucemia, antes de havermos consumado o desejo mútuo de nos possuirmos sexualmente um ao outro.

João, casado, pai. Fanfarrão a quem acabei por aceder às suas múltiplas tentativas de me seduzir. O seu entusiasmo e desejo eram de tal modo empolgados que, no primeiro e único encontro íntimo que tivemos atingiu o orgasmo nos preliminares, ainda antes de havermos consumado qualquer prática de cópula.

Flávio, casado, pai. Indivíduo bem disposto e aventureiro, chegámos a ter contactos sexuais perante terceiros, sem que estes dessem por isso. Éramos peritos na arte da dissimulação. E isso divertíamo-nos imenso. Afinal o sexo também pode ser lúdico.

São apenas alguns exemplos da minha experiência com heterossexuais assumidos, mas sempre prontos a se envolverem sexualmente com outros homens.

Não referi aqui os casos que durante anos me assediaram e a cujas tentativas resisti, por uma razão ou outra. Afinal com uma lista de opções tão variada eu dava-me ao luxo de escolher os que mais me agradavam.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

POVO COBARDE

E foi sempre assim... os portugueses como povo, sempre assumiram como suas as vitórias e encontraram bodes-espiatórios para os fracassos.

Li esta manhã um título num matutino que anunciava o resultado de 6-2 do jogo de futebol de ontem, entre a selecção portuguesa e a selecção brasileira: "Selecção de Queiroz humilhada na capital brasileira".

Típico! É caso de dizer: "mesmo à portuguesa!" Caso o resultado tivesse sido o inverso adivinho que o título no mesmo jornal seria: "Selecção nacional humilha selecção brasileira na sua capital".

Eu chamo a isto de cobardia e mesquinhez, dum povo com baixa auto-estima e imaturo.

Maturidade é também saber assumir as suas limitações e as suas derrotas. Maturidade é saber continuar em frente, de cabeça erguida, mesmo que não nos aplaudam e entoem que somos os melhores do mundo. Maturidade é saber construir uma identidade própria pela elevação cívica de todos os indivíduos e não, esperar que uma selecção de futebol seja um símbolo da excelência dum país.

Um país que se revê nos resultados duma equipa de futebol é um país menor. Perdido na sua falta de identidade nacional.

Eu considero-me um apátrida exilado, mas assumo a minha identidade africana e revejo-me em todos os sucessos e fracassos dos diferentes povos do meu continente-mãe; que é também o continente-mãe de toda a Humanidade.

Podemos ser um continente flagelado e martirizado por todo o tipo de sevícias, mas nós africanos, somos povos que acreditam num amanhã possível. E aparte todos os desaires dos diferentes povos que compõem esta imensa manta-de-retalhos humana, somos orgulhosos da nossa natividade e identidade africana!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

SIGUR RÓS, LUIS

16 de Setembro, dia do meu aniversário. 
Meu Irmão-de-Alma, o Luis, deu-me opção de oferta de aniversário, um ingresso para o espectáculo dos Mercury Rev em Lisboa. Eu optei pelos Sigur Rós. 
E lá estivemos os dois hoje, 11 de Novembro, assistindo ao show dos quatro islandeses no Campo Pequeno.

Final de tarde outonal, já com a noite vestindo tudo de sombras e negro. A cidade retirava-se apressada para as periferias, após mais um dia de trabalho cumprido. 
Eu chegava ao monumental edifício, iluminado pelas luzes feéricas duma urbe moderna e capitalista.
Levava comigo apenas a expectativa de assistir a mais um espectáculo musical. Tão somente.

Após várias vindas da banda a Portugal era a primeira vez que eu concretizava a vontade de os ver tocando ao vivo. 
O público ia chegando sem pressa, tranquilo. Dentro do vasto recinto a atmosfera ia-se moldando para o ritual sonoro que se aproximava. E quando tudo se apagou, menos umas velas acesas e dispersas pelo palco...

A música feita magia!

Num palco vestido de negro quatro criaturas encarnando a música, faziam de cada nota, de cada acorde uma metamorfose sonora encantatória, desabrochando perante nós em deleite e pureza. 
A voz de falsete pueril, com o seu timbre tão peculiar, de Jónsi Bigirsson, sussurrava e entoava frases numa língua imcompreensível, mas que todos entendiam. Uma voz familiar, por todos identificada, de tão desbragadamente infantil; a voz da criança adormecida dentro de nós. 
Voz, mais que cantando, dançando em enleios planantes com as enebriantes sonoridades que Jónsi libertava da sua guitarra eléctrica, ao tocá-la com um arco de violoncelo (o seu estilo muito pessoal).
O cenário enchia-se de cor e formas. Sombras e imagens diluídas na intenção de mostrar sem desvendar; ou o inverso.

Poderia ficar aqui desfiando linhas de prosa ou verso, em longos arroubos de inspiração, mas nunca conseguiria descrever o êxtase de tão singular ritual.

Orgástico! Espiritualmente orgástico!

Bem-hajas, bom Luis, por estes momentos inesquecíveis.

domingo, 9 de novembro de 2008

SORRY, PETER GABRIEL



"Peter Gabriel saiu dos Genesis e toda gente se pôs de pé!" era título na imprensa da época, aquando da saída de Peter Gabriel dos Genesis, como se para compensar a sua saída fosse necessário um esforço suplementar dos restantes membros do agrupamento musical. Como se com ele tivesse ido a alma e o espírito criativo dos Genesis.

Também a mim me foi difícil aceitar , na altura, a saída do carismático vocalista, pois isso prenunciava o final das extravagantes apresentações teatralizadas dos espectáculos da banda. Havendo mesmo muitos agoirentos fã(nático)s incondicionais que viam nesse abandono o fim do projecto musical e o desaparecimento da banda no seu apogeu. 
"A qualidade musical vai diminuir!", "A mística acabou!" eram lamentos recorrentes entre os velhos-do-Restelo. Mas não foi tanto assim! 
O que terminou foi apenas a teatralização mascarada dos temas musicais nas apresentações ao vivo. A qualidade e mística das músicas e temáticas permaneceu ainda, por mais algum tempo.

A verdade é que o génio criativo dos Genesis residia naquela figura apagada, sentada no canto esquerdo do palco (visto da perspectiva do público), tocando as suas guitarras com uma discreta postura, quase como se a sua presença fosse perfeitamente descartável. 
Era ele Steve Hackett. Aquele de que apenas se falava referindo-o como o guitarrista sentado lá ao canto.

Na verdade foi Steve Hackett que impôs à banda o modelo de apresentação cénica dos espectáculos ao vivo, aproveitando a bipolaridade de Peter Gabriel (P. G. sofre de Doença Bipolar) que lhe proporcionava uma plasticidade necessária para encarnar as várias personagens e narrativas dos temas musicais. 
Quando a banda convidou Steve Hackett para guitarrista ele impôs como condição refazer toda a postura em palco da banda e o modo como os espectáculos deveriam ser montados e encenados. 

Foi do génio criativo de Steve Hackett que nasceu o formato de espectáculo de rock cénico que tornou os Genesis famosos e serviu de modelo para muitos outros músicos e bandas, que neles se inspiraram para idealizar os seus espectáculos.

E para sossegar os fãs e a crítica, logo saiu o álbum "A Trick of the Tail", que para espanto de todos mantinha tudo aquilo que definia a sonoridade tão peculiar dos Genesis. Até a voz de Phil Collins encaixava perfeitamente no som, tal como antes acontecera com a voz de Peter Gabreil. 

Afinal os Genesis tinham vida para além de Peter Gabriel! 

Sim, tinham e tiveram por muito mais tempo e com muito sucesso também. E a mística musical e temática permanecia lá! Um olhar do mundo com algum surrealismo, alguma ironia e muito de onírico e devaneio. Pois, a mística  permanecia, porque o obreiro dela tinha um nome: Steve Hackett. 
Sorry, Peter Gabriel! But that's the truth!

Depois de dois álbuns gravados após a saída de Peter Gabriel, a banda (e a editora) entendeu que deveria acompanhar as mudanças dos gostos da época e de novas gerações de fãs e então Steve Hackett reconheceu que era o momento de sair, pois aquele não seria mais o seu projecto. Chegara o momento dos discos por encomenda para vendas maciças a engordarem as contas bancárias das editoras e demais tubarões empresariais.

Mas o génio ficou! Contudo não na banda, que enveredou por caminhos ínvios e incaracterísticos, com algumas tentativas trôpegas de imitar o clima dos velhos tempos, mas que não passavam de infrutíferos arremedos grosseiros. O génio místico dos Genesis viveu fora deles, nos álbuns a solo de Steve Hackett e na sua carreira musical, desde o seu abandono do projecto Genesis. Viveu e livre das restrições relacionais complexas duma banda de rock, desenvolveu todo o seu potencial criativo, registado em inúmeros trabalhos, para felicidade de quem se propuser a apreciá-los sem preconceitos e pré-juízos.

Para os que o queiram confirmar faço duas sugestões, começando pelo seu segundo álbum "Please Don't Touch", tão rico em ambientes que nos levam de enlevo em enlevo, como se vagueássemos  numa mágica feira de fantasias. E depois o show gravado no Japão "The Tokyo Tapes" e editado em DVD, onde Hackett conta com a cumplicidade de outros músicos de bandas como King Crimson, Asia, Weather Report e outras.

Mas estes são apenas dois exemplos da vasta discografia de Steve Hackett, distribuída por várias áreas da composição e interpretação musical.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O NÃO-TEXTO

Hoje queria ter vindo aqui falar sobre o auspicioso momento da eleição de Barack Obama.
Hoje gostaria de ter vindo aqui falar da importância da união entre povos e nações.
Hoje gostaria de ter escrito um poema no LokFeyl.
Hoje gostaria de ter feito muita coisa, mas tive de acudir a um Amigo. Alguém que me é muito querido e que me dói a alma vê-lo sofrer, sem um queixume, sem um lamento de auto-comiseração. 
Hoje acudi um amigo tal como acontece quando o mesmo sucede com qualquer um dos meus outros amigos. Contudo alguns parecem ser penalizados demais. E por isso chorei.
Sim, os homens também choram. E chorar é bom. Principalmente quando esse choro também assume a forma de prece.
Hoje eu gostaria de ter falado sobre como é importante a Humanidade tomar consciência de que somos um Todo. Um Todo composto de muitas partes únicas... e tão singulares na sua essência divina.
Hoje eu gostaria de ter tido a cabeça mais desanuviada. Mas... tudo correu de um outro modo.
Contudo o desalento não vence! E amanhã virá o dia em que já poderei voltar em forma, para vos brindar com mais um texto.
Hoje o dia foi de quem mais precisou duma mão amiga a quem se agarrar e dum afago na fronte para reconfortar uma Alma sofrida.

sábado, 1 de novembro de 2008

O GARROTE

Haja alguém que me explique porque estarão despejando Portugal em Lisboa.
Perante as políticas centralizadoras deste governo, começo a entender a ideia de que para lá de Lisboa o resto do país é um deserto.

Há indicadores preocupantes na política portuguesa de que nem tudo é tão claro e transparente quanto deveria ser em democracia. Não acredito que néscios cheguem ao poder em parte alguma e isso me induz a ficar mais de sobreaviso. 

Agora querem garrotar Lisboa com um paredão de contentores. Ãh?!!!...
Vão-se gastar milhões numa extravagante obra de malabarismos múltiplos, envolvendo várias vertentes. Entre as quais mais um túnel junto ao rio, em solos permeáveis!!! Bem se poderia direccionar essas verbas para a beneficiação patrimonial arquitectónica da cidade, tão mal tratada e descurada.
Lisboa tem potenciais turísticos como muito poucas cidades. Porque não aproveitá-los e dinamizá-los, em vez de insistir em políticas terceiro-mundistas de industrialização centralizada?
Afinal para que serve o porto de Sines??? Porque não enviar para lá os contentores e desenvolver uma rede ferroviária nacional inclusiva (uma rede que facilitasse o acesso ferroviário a todas as regiões do país, tanto para pessoas como para mercadorias)? 
No mínimo seria mais ecológico que esta política do asfalto, deliberadamente exterminadora das vias ferroviárias tradicionais remanescentes. Já para não falar no impulso que tal medida daria ao desenvolvimento económico do Alentejo (coisa que aquela monstruosa aberração da barragem do Alqueva não fez, nem fará).

Os militares estão descontentes com as suas condições contratuais. E oiço um sénior militar (um ainda remanescente dos apelidados Capitães de Abril) afirmar que não se passa nada com os militares, uma vez que eles fizeram o 25 de Abril , que possibilitou a democracia e que jamais os militares iriam por em causa a integridade dessa democracia. Sim, meu caro, mas não foram estes militares de hoje que fizeram o 25 de Abril à 34 anos (muitos deles ainda nem tinham nascido). Já para não falar nas razões que motivou o levantamento dos capitães... cala-te boca!
As forças armadas portuguesas deixaram de ser uma incorporação forçada de campónios incultos. Os militares agora são profissionais. A mim parece-me que há aí uma pequena diferença. Não acham?

A Assembleia da República repudiou a discussão da regulamentação dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, invocando o Partido dominante e dominador, haverem outros assuntos sociais mais prementes a discutir e resolver de âmbito geral. Mas depois só oiço falar em Magalhães para cá e Magalhães para lá. Tendo-se chegado ao cúmulo (que vergonha eu teria se me considerasse português!) de o Primeiro Ministro armar em vendedor de banha-da-cobra, aproveitando uma cimeira internacional, onde era suposto debater-se assuntos de suma importância e que muito preocupam todo mundo, para fazer uma sessão de propaganda do Magalhães.

Como diria qualquer um dos meus amigos brasileiros: HAJA CU!!!