sexta-feira, 30 de abril de 2010

O MEDO



É o Nostradamus, os Maias, o 2012, o Dia do Juízo Final... e vai por aí.

É o folclore montado em torno de tudo isso. É o inevitável oportunismo ganancioso de todos os parasitas sociais tentando aproveitar ao máximo os modismos para engordar grosseiros lucros e tirar proveitos de qualquer ordem. Nem que seja à custa dos medos alheios.
E sim, instiga-se o medo para se tirar vantagens.

O discurso tornou-se paranóico. A ideia de fim do mundo com data marcada tomou de assalto o colectivo. Todos seguem a sua rotina normal, viciada, escravizante. Mas lá no fundo um medo silencioso mina a alma e distorce a pacatez dum vida dormente. A perversão do sentimento de coesão colectiva.

Com o auxílio das novas tecnologias de comunicação é fácil espalhar os alarmes e a histeria colectiva, como uma praga viral.

Além de todos os motivos de desânimo e insatisfação, propícios à depressão junta-se agora o pânico do fim do mundo. Como se alguma falta nos fizesse mais um motivo de desconforto neste mundo doentio.


Foto: Rui Dias Monteiro

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O EREMITA



Ele carrega as dores do mundo nas costas.

O seu percurso não tem rumo, é uma praia desembocando em qualquer costa do mundo. O seu sentir é profundo como o oceano. Paradeiro algum é seu. Ele não veio para conhecer descanso.

As chagas da vida são a força que o impele adiante. Cada lágrima de sangue é um tónico para seu coração pleno de amor. Ele não precisa de altar. O chão árido e salgado é o leito onde repousam os seus suspiros. Traz nas mãos a voz dum deus sem memoria.

Seu doce olhar é lâmina rasgando fundo as almas humanas. Trazendo luz onde só as trevas reinam. O seu tempo é amanhã. O seu destino é longe, bem longe.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

MANDAMENTOS PAPAIS

Mandamentos do Papa Benedictus:

I - A vossa sexualidade é da nossa conta.

II - A nossa sexualidade não é nada da vossa conta.


E assim segue a sinistra criatura do Vaticano.

sábado, 24 de abril de 2010

OS TABUS E OS MEDOS (HOMOSSEXUALIDADE)


Um padre católico (sempre a Igreja Católica!) ugandês (assessor do governo) apoia (quanto a mim instigou) o governo do Uganda na sua determinação de criar uma lei que pune a prática da homossexualidade com penas pesadas que podem ir até à pena de morte.

No Brasil, na Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo, estudantes publicam um opúsculo (O Parasita) com um artigo incitando à perseguição e violência sobre os homossexuais. Este tipo de expressão dum pensamento tacanho e chauvinista é chocante quando expresso por uma elite informada e esclarecida, que constituirá o futuro corpo de formação de opinião pública dum pais moderno e influente.

Os valores velhos e obsoletos caem por terra, desacreditados e incongruentes num mundo que se revolve em busca de novos rumos. Mas se no geral se aspira por evolução e avanço, individualmente os medos crescem. As massas não estão preparadas para renovações; nem grandes nem pequenas. Tentam encaixar o novo nos seus velhos modos de perceber e fazer as coisas.

A vivência do novo, do desconhecido, é um drama aterrorizante. E tal pavor leva ao refúgio no velho modo de agir e compreender; uma tentativa infantil de procurar refúgio debaixo das saias (por mais rançosas e pestilentas que estejam) da mãe Tradição.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

PRIMAVERA

É sempre um recomeçar. Afinal todos os dias são um recomeço. Recomeço de algo que por vezes não temos bem a consciência de quê, nem porquê. Mas a jornada prossegue. Como uma sinfonia sem fim; que avança de andamento em andamento. Rumo incerto.

Os dias sucedem-se previsíveis, na sua mutabilidade. A rotina removeu toda a maravilha da descoberta. Todo o deslumbramento. Apenas encheu tudo dum tédio atroz. Criminoso!

A contagem dos dias é um tic-tac angustiante, quase sinistro. O medo de falhar.

A dúvida sempre assalta as debilidades humanas. Mina vontades e determinação. Mas sempre persiste um último recurso; a fé. Não me refiro à fé religiosa, embora essa possa ser inclusa. Falo da esperança que perdura para além de todos os desaires. Do gesto insano de continuar, quando todos aconselham o parar, o desistir. Falo do ficar olhando em frente, quando já nada mais se anuncia a chegar.

Na nossa sociedade urbana ainda há Primavera?